Depressão
transtorno ou dor de existir?
Resumo
Segundo as estimativas da organização mundial da saúde (OMS) mais de 300 milhões de pessoas no mundo vivem com depressão. Na visão dos manuais de psiquiatria (DSM-V, CID-10) a vemos como um transtorno do funcionamento mental/cerebral, ou seja, há uma variedade de condições desreguladas no indivíduo que afetam o seu funcionamento normal. Já Freud apresenta o fato de a cultura produzir um mal-estar nos seres humanos, visto o antagonismo existente entre as exigências da pulsão e da sociedade. Ele coloca que a civilização tem como tarefa evitar o sofrimento e garantir segurança, deixando o prazer em segundo plano. Segundo a psicanálise, a satisfação pulsional é sempre parcial, o que torna restrita a possibilidade de felicidade no humano. Ressalta-se que não é rigor da psicanálise resolver a questão da depressão pela solução coletiva, de uma norma social, como querem os discursos da ciência, apoiados pelo mercado e pelas indústrias farmacêuticas, que prometem uma felicidade a partir de cápsulas e/ou resoluções instantâneas. Problematiza-se esta questão a partir de um corte lacaniano: que os nossos afetos sejam pontuados com a política do um a um, que cada um possa escolher o que fazer com seu sofrimento e responsabilizar-se por ele, para que, desta forma, o sujeito possa tornar esse afeto fonte e origem para a transformação de si ou do mundo. O eixo central do trabalho circula em torno de olhar para a depressão não somente como algo patológico, mas como algo que faz parte da condição humana de forma subjetiva. Trata-se de uma revisão bibliográfica simplificada, tendo como leitura livros e textos de abordagem psicanalítica, selecionados a respeito da temática em questão. Analisou-se um livro/texto clássico de Freud (1929) e livros/textos contemporâneos datados entre 2008 e 2017. Percebe-se o quanto a depressão tem sido levada como um dos nomes do mal-estar da época e da cultura. Os imperativos impostos pelas normas sociais (seja feliz, consuma, goze) contribuem para uma massificação do sofrimento psíquico, deixando o sujeito “engessado” e quase sem condições para encontrar suas saídas singulares. A visão dos manuais normativos e da própria psiquiatria resulta em um apagamento do sujeito quando o coloca em uma classe dando nome genérico ao seu sofrimento, diferente da psicanálise que o leva a se implicar subjetivamente com suas questões. A questão da depressão traz a necessidade de novas discussões e olhares. Considera-se pertinente que se leve em conta a ética do desejo e assim faça valer o sujeito.